Vários são os servidores públicos que compartilham
ou não sua dor e frustração. A impotência diante dos desmandos, a falta de
valorização, a corrupção, a nefasta influência do aparelhamento político, o
comando por estúpidos apadrinhados que não entendem nada e todas as outras
questões que você, certamente, sabe como é. Em meio a esse cenário, claro que
existem bons chefes e excelentes profissionais ocupando cargos em comissão, mas
não vamos fechar os olhos. Não adianta tentar ser politicamente correto, ou
simpático, e fingir que não temos um problema que nós temos. Isso para não
falar dos fofoqueiros, invejosos, das "panelas" etc. E pior é que, às
vezes, o "sistema" nos reserva o indesejável papel de ser o capitão
do mato, ou o carimbador, ou apenas aquele que dá ares de legitimidade ao que é
imoral e ilegítimo. Caio Tácito disse certa vez que a arte da tirania é se
valer de juízes ao invés de soldados... E isso acaba valendo para muitos cargos
dentro do serviço público. E muitos se veem sem opção, sem saída.
Primeiro, eu penso o seguinte: minha relação com o Estado é uma, com os idiotas no poder é outra (não há só idiotas, eu repito), mas com as pessoas é ainda outra. Por mais difícil que seja, tento praticar o que recomenda Efésios 6, versos de 5 a 10:
Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo; Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas. No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. (Efésios 6:5-10)
Segundo, penso na ideia do metro quadrado. Eu cuido do meu metro quadrado. Nele o serviço público haverá de ser honesto, eficiente, educado, humano. Como dizia Theodore Roosevelt, devemos fazer o que podemos, com o que temos, onde nós estamos. Pus isso tudo no site www.revolucao.info - e tento fazer o melhor. Então, trabalho para que aquele que "cair nas minhas mãos" se considere uma pessoa de sorte. Esta pessoa terá o melhor que eu puder oferecer. De modo que tenho uma Vara elogiada, uma equipe formidável, etc.
Ainda não cheguei ao nível que gostaria, nem como cristão nem como servidor, mas tento. Acho que é o que nos resta, nos cabe, nos consola. Espero que você possa ficar feliz cuidando do seu metro quadrado. Estou certo que assim como o desânimo, a motivação também é contagiosa. Creio que podemos inocular noutros esse pedaço de sonho, de metro quadrado. Mas o que temos nós a oferecer senão isso: um metro e um ideal, por mais quimérico e utópico que seja. A utopia nos protegerá do desencanto. Ou, como já me disseram ao tratar de dúvidas sobre a fidelidade amorosa do parceiro, "é melhor viver iludido do que desiludido". Eu convido você a ser extremamente ciente de tudo quanto aos fatos, mas se mantendo um sonhador quanto ao que fazemos. Cuide do seu metro quadrado e pronto.
Ainda existe um terceiro consolo, menos nobre, mas não menos respeitável: dali tiramos nosso sustento. Portanto, que levemos para casa o "leite das crianças" e honremos as calças que vestimos.
E que não desanimemos: um dia retomaremos o serviço público dos incompetentes, dos omissos, dos tíbios, e o devolveremos ao povo, finalmente.
WILLIAM DOUGLAS.
William
Douglas é juiz federal com mestrado em Direito e pós-graduação em Políticas
Públicas e Governo. Atua também como professor em cursos de extensão e
preparatórios.
Disponível
em:
http://concursos.correioweb.com.br/htmls2/sessao_13/2013/02/11/interna_colunaparceiro/id_noticia=39864/interna_colunaparceiro.shtml.
Nenhum comentário:
Postar um comentário