Brasília. Depois de longas negociações que envolveram o ministro da
Fazenda, o secretário da Receita Federal e o presidente da Câmara dos
Deputados, o texto base do projeto que regulamenta e estende a terceirização no
mercado de trabalho brasileiro foi aprovado ontem à noite pelos deputados.
O Plenário da Câmara aprovou, por 324 votos a 137 e 2 abstenções, o
texto-base do Projeto de Lei 4330/04, que regulamenta contratos de terceirização no setor privado e para empresas públicas, de economia mista, suas subsidiárias
e controladas na União, nos estados, Distrito Federal e nos municípios.
O texto começou a ser votado ontem, sob pressão do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) o principal defensor da medida. Cunha informou que
emendas dos parlamentares somente serão discutidas na semana que vem. A
previsão
é que isso ocorra na terça-feira (14).
Houve grande crítica dos parlamentares contrários ao texto por conta da
conduta de Cunha. Só três partidos (PT, PCdoB e PSOL) fecharam questão e
votaram contra a proposta que tramita há 11 anos. As galerias da Câmara estavam
vazias e nenhum representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
conseguiu entrar no plenário.
Negociação
O texto contempla importantes pedidos da equipe econômica do governo
Dilma Rousseff (PT), que temia perda de arrecadação, e também alguns pedidos do
movimento sindical, que vão na direção contrária dos desejos dos empresários.
Mas mantém intacto o grande objetivo do projeto, que é defendido por
praticamente todas as associações empresariais do País: com sua aprovação, a
lei permitirá a contratação de trabalhadores terceirizados para
"atividades-fim" e não mais somente para "atividades-meio",
como ocorre hoje.
O texto institui a cobrança de impostos e contribuições federais para
empresas contratantes. Hoje apenas as empresas intermediadoras de mão de obra
terceirizada é que sofrem essa cobrança. Segundo o projeto, haverá cobrança de
1,5% do Imposto de Renda (IR), de 1% da Contribuição Social sobre Lucro Líquido
(CSLL), de 3,65% de PIS/Cofins e de 11% do INSS.
Esses impostos e contribuições deverão ser retidos pelas empresas
contratantes, exatamente como queria o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o
secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Apesar da vitória da Fazenda,
preocupada com a melhora das contas fiscais, a cobrança de Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) ficou de fora do projeto final. As empresas
contratantes devem apenas "fiscalizar" que o FGTS será recolhido pela
empresa contratada, isto é, a intermediadora da mão de obra terceirizada.
Sindicatos
O projeto final também contempla uma importante medida para os
sindicatos. O artigo 8 do PL prevê que os trabalhadores terceirizados que
passem a atuar na atividade-fim sejam representados pelo sindicato da
categoria. Essa alteração não agrada empresários, que desejavam a formatação
anterior.
Pelo projeto original, se um terceirizado fosse contratado para a função
de metalúrgico numa fábrica de carros, isto é, a "atividade-fim"
nesta empresa, ele seria ligado a um sindicato dos terceirizados, que tem menos
força e influência do que os sindicatos dos metalúrgicos. Agora, se o
terceirizado exercer a função de metalúrgico, ele será representado por este
sindicato; isso valerá para todas as categorias profissionais.
O projeto de lei também prevê a manutenção do salário aos trabalhadores
que sejam contratados para a "prestação dos mesmos serviços terceirizados,
com admissão de empregados da antiga contratada".
Outra preocupação da Fazenda é a "pejotização": quando
empresas demitem os empregados e os recontratam como pessoas jurídicas. O
relator concordou em proibir a contratação de empresas terceirizadas cujos
titulares ou sócios tenham trabalhado para a empresa principal, com ou sem
vínculo empregatício, nos últimos 24 meses.
Deputados se dividem em relação aos efeitos do PL
Brasília. A terceirização divide opiniões na Câmara. Modernidade para
uns, precarização para outros. A discussão do projeto que regulamenta o tema
(PL 4330/04) colocou em lados opostos dois argumentos: os contrários alegam que
haverá precarização das relações de trabalho, enquanto os favoráveis falam em
modernidade e competitividade da economia brasileira. O embate deve continuar
na semana que vem, quando serão votados os destaques.
Entre os 21 deputados cearenses presentes, 11 foram contra a proposta. A
decisão da maioria dos parlamentares foi a favor do texto-base do projeto, que
autoriza a terceirização para todas as áreas de empresas.
Hoje, a Justiça do Trabalho limita a subcon- tratação a áreas-meio, como
limpeza e segurança. O PL ainda será votado no Senado. A terceirização de
funcionários da área-fim é considerada ilegal pela Justiça do Trabalho. Esse é
o ponto mais polêmico da proposta.
"Aqueles que criticam a terceirização falam de precari- zação, mas
a precarização decorre da falta de uma lei para tratar do tema diz o relator do
texto, Arthur Maia (SD-BA).
Os partidos que se aliaram contra o projeto foram PT, PCdoB e Psol. Eles
chegaram a levar uma faixa ao Plenário criticando o projeto. O deputado Valmir
Assunção (PT-BA) disse que a proposta vai retirar dos trabalhadores as
conquistas dos últimos 12 anos com a redução do desemprego e a política de
valorização do salário mínimo.
A proposta também foi criticada pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ).
"O atual projeto que se quer votar neste momento quer transformar os 33
milhões de empregados diretos em terceirizados, e isso nós não queremos",
disse.
O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), disse há pouco que o
projeto que regulamenta a terceirização vai levar a um índice de terceirização
de 75% no mercado de trabalho. Hoje, segundo ele, 25% dos trabalhadores são
terceirizados. "O grosso do empresariado apoia esse projeto porque vai
contratar vulneráveis, vai remunerar menos o fator trabalho. E a rotatividade
vai, evidentemente, aumentar".
Já o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), também conhecido como
Paulinho da Força, defendeu o projeto. Ele ressaltou que o relator aceitou uma
emenda que garante aos terceirizados os mesmos direitos de acordos coletivos do
sindicato dos funcionários da empresa contratante. "O sindicato será o
mesmo, então, vai garantir os mesmos direitos", disse.
Na avaliação do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), sindicatos
contrários à proposta estão menos preocupados com trabalhadores e mais com o
financiamento das entidades. "(A proposta) vai acabar com a categorização
e com o financiamento, pelos terceirizados, de sindicatos que não lhes
servem", disse o parlamentar.
Petistas pediram ao STF anulação
Brasília. Os deputados federais do PT Sibá Machado (AC) e Alessandro
Molon (RJ) recorreram, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a
sessão da Câmara para votação do Projeto de Lei (PL) 4330/2004, que regulamenta
a terceirização de serviços.
Os parlamentares alegam que o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não poderia ter iniciado a votação porque uma Medida
Provisória trancava a pauta e deveria ser votada primeiro, obrigatoriamente.
Com a aprovação do texto base na noite de ontem, as emendas e destaques serão
apresentados até a próxima terça-feira (14).
No final da sessão, os parlamentares contra o projeto abriram uma faixa
de protesto no plenário. "Fim da CLT, ataque aos trabalhadores. Vote
não", dizia a mensagem.
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, autorizou ontem a
entrada de dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Câmara para
assistir à votação do Projeto de Lei (PL) 4330/2004. Apesar disso, os
sindicalistas não conseguiram entrar.
O QUE ELES PENSAM
Mudança na lei
A polêmica em torno da terceirização é fantasiosa, pois os argumentos
contrários a ela não se sustentam. Quem os cita não sabe do que está falando,
ou fala em nome de interesses que não se conjugam com a realidade da economia,
ou com o bem-estar dos trabalhadores.
Terceirização existe em todo o mundo, e sem ela as empresas, de modo
geral, seriam inviáveis. Nenhuma tem o domínio de todas as etapas da fabricação
de seus produtos. É mister socorrer-se de empresas especializadas que, com
rapidez, qualidade e economia, as completam. O exemplo maior é a indústria da
construção civil, cujas obras são feitas em etapas: fundações, estrutura,
instalações hidrossanitárias, elétricas, e outras. Cada uma precisa de
especialistas.
Seria absurdo exigir das empresas que tenham em seus quadros pessoas
caras ociosas na maior parte do tempo!
Alega-se que a terceirização "precariza" o trabalho. Balela.
Os funcionários de contratante e contratada são regidos pela legislação
trabalhista. Os terceirizados são até mais protegidos pois, se a terceirizada
não pagar seus direitos, a contratante é obrigada a fazê-lo. E o salário de
todos quem dita é o mercado. Terceirizados especialistas valem ouro. A economia
não vem de salários mais baixos dos terceirizados, e sim da eficiência e
qualidade do trabalho de especialistas.
O Poder Judiciário, por falta de lei que regulamente a terceirização,
"legisla" sem muito cuidado sobre assunto sensível para a economia.
Os conceitos de atividade fim e atividade meio são um exemplo.
Determina o TST que só se pode terceirizar atividade meio. Decisão
infeliz que está levando as empresas ao purgatório, pois não é possível
fabricar produtos cada vez mais complexos sem a expertise de profissionais
especializados. Além disso, não há uma linha divisória definida. Aí entra o
arbítrio inconveniente de quem fiscaliza ou julga.
A terceirização lubrifica a engrenagem da economia. É do interesse do
País. O PL 4330, ora em aprovação no Congresso, é bem-vindo. Traz segurança
jurídica à operação. É disso que mais se precisa, no momento.
Affonso Taboza
Membro dos conselhos de assuntos legislativos da Fiec e da CNI
Reputamos que a terceirização, tal como proposta Projeto de Lei 4330/04,
trará graves prejuízos para os trabalhadores e para a sociedade, porquanto a
terceirização, sem limites, gera as seguintes consequências nefastas:
A) a destruição da capacidade dos sindicatos de representarem os
trabalhadores;
B) baixos salários e o desrespeito aos direitos trabalhistas, com
impactos negativos na economia, no consumo e na receita da Previdência Social e
do FGTS (usado primordialmente para saneamento básico e habitação), com
prejuízos a todos;
C) precarização do trabalho e o desemprego. A alegada "geração de
novos postos de trabalho" pela terceirização é uma falácia: o que ocorre
com tal fenômeno é a demissão de trabalhadores, com sua substituição por
"sub-empregados" (vide o exemplo da Argentina e da Espanha nos anos
90);
D) aumento do número de acidentes do trabalho envolvendo terceirizados,
como já atestou o TST;
E) prejuízos aos consumidores e à sociedade, ante a profunda diminuição
da qualidade dos serviços prestados nas áreas de energia, água e saneamento,
que seriam fortemente afetados pela terceirização ilegal;
F) prejuízos sociais profundos. A ausência de um sistema adequado de
proteção e efetivação dos direitos dos trabalhadores, com a existência de um
grande número de trabalhadores precarizados, sem vínculo permanente, prejudica
toda a sociedade, degradando o trabalho e corroendo as relações sociais.
A aprovação do PL 4330, a nosso ver, implementando a terceirização ampla
e irrestrita (em verdade, tratar-se-ia de legalizar o aluguel de pessoas),
ameaça até mesmo a competitividade do Brasil, pois a implementação de tal
proposta:
- criará enorme quantidade de trabalhadores precarizados e descartáveis;
- aumentará a desigualdade social;
- tornará ainda mais frequentes os acidentes e mortes no trabalho;
- diminuirá o consumo;
- e por fim, prejudicará não somente a produtividade e a economia, mas
toda a sociedade brasileira.
José Antônio Parente
Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) /CE
DIÁRIO DO NORDESTE
Essas pessoas que defendem a terceirização não sabem o que é ser trabalhador. No mínimo são políticos corruptos que provavelmente devem está defendendo interesses empresariais.
ResponderExcluir